Cinco golos, dez pontos. De tão avassaladora, num registo sufocante característico de um intenso «banho de bola», a superioridade portista chegou a transmitir a sensação de produzir um resultado (5-0) escasso, incapaz de saciar a avidez de uma plateia em delírio, que não se cansaria de tributar o esplendor de uma exibição perfeita a uma equipa brilhante e ousada, sem medo de ser campeã. Porque é assim o Dragão de Villas-Boas.
Ataque e contra-ataque. Foi assim, tal qual, mesmo não faltando entendido ou conhecedor disposto a mascarar o mísero investimento encarnado com uma fabulosa designação capaz de confundir a postura benfiquista com a prática sagaz de transições rápidas ou algo que se pareça. Mas não. O FC Porto arrasou, o adversário limitou-se a espreitar timidamente; com Kardec sozinho na frente, a perscrutar um território que nunca seria de Jesus.
Mas os Dragões não jogaram apenas mais do que o Benfica. Jogaram também melhor. Muito melhor. Compondo, com os melhores intérpretes, a melhor equipa, superior até na forma como resistiu à intimidação com que o adversário, montado num esquema de dois trincos, procurou condicionar a dinâmica de jogo e a audácia portista nos minutos iniciais.
Calhou mal. Varela, que aos dois minutos já se contorcia no relvado, no rescaldo da primeira de muitas maldades que Maxi lhe reservou, não perdeu muito tempo para fazer o primeiro golo, na ponta final de um arranque poderoso de Hulk, que deixou (muito) para trás o lateral David Luiz, que fica a dever esse e outros vexames ao génio da variação táctica ao seu treinador, apressado a devolver o central ao seu lugar no recomeço, porque, afinal, neutralizar o talento de Fábio Coentrão fora, para Sapunaru, uma tarefa banal.
Mas David Luiz tinha muito que penar antes disso. Fintado e refintado por Belluschi, assistiu, no mesmo lance, à rendição de Luisão, que, antes de «pedir» o cartão vermelho, ajoelhou perante o gesto quase circense com que Falcao assinou o segundo golo de calcanhar. Daí a nada, o avançado colombiano voltava a marcar, novamente servido pelo «gigante» Belluschi, e encerrava a questão. A vitória estava assegurada antes da meia hora, mas o jogo de imposição pela excelência ainda estava por terminar. Ainda havia mais golos para festejar e mais «olés» para gritar.
Gritantes eram, pois, as diferenças. O fulgor e o cintilar ténue e efémero. Os originais e as imitações. Na segunda metade, Hulk fez o favor de acrescentar mais duas provas a uma tese mais do que provada. Primeiro de penalty, que sofreu e converteu; depois, num remate cruzado, inesperado, colocado e indefensável. Sublime como o autor, que menos de duas horas antes havia recebido o segundo troféu de Melhor Jogador do Mês em dois possíveis…
Não há, portanto, comparação. Há, isso sim, anos-luz a separar FC Porto e Benfica, que, em termos pontuais, se resumem a dez pontos. O que, bem vistas as coisas, até parece pouco… Os cinco golos do tridente ofensivo tornam o Dragão ainda mais líder.
FICHA DE JOGO
FC Porto, 5
Benfica, 0
Liga 2010/11, 10ª jornada
7 de Novembro de 2010
Estádio do Dragão, no Porto
Assistência: 49.817 espectadores
Ao intervalo: 3-0
Marcadores: Varela (11m), Falcao (24 e 28m) e Hulk (81 e 89m)
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